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terça-feira, 18 fevereiro 2025
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Pollyana Aguiar: uma sete-lagoana na Itália

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Pollyana Aguiar

O Brasil é a minha casa! Eu amo o meu país, mas isso não me impede de amar a Itália! Vou continuar aqui. É apenas um momento difícil que vai passar!

A forte frase abre a entrevista da publicitária e  Lifecoach Pollyana Aguiar, nascida em Sete Lagoas, há três anos e meio residindo na Sardenha, Itália. Com ela foram os três filhos: Leonardo, 21 anos, Bruno, 14 e Daniel,  9, prestes a completar 10 neste mês de março.  O coronavírus, agora uma pandemia reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mudou a rotina de milhões de pessoas. Como ela e sua família estão vivendo esse momento na Itália é o principal assunto da entrevista a seguir, feita via WhatsApp, com Pollyana Aguiar. Confira.

Por Caio Pacheco

Pollyana Aguiar e seus filhos em casa, na Itália; como ela diz, é PollyProle, símbolo da união da família

Caio Pacheco – Como está a situação neste momento na cidade em que você e sua família vivem?

Pollyana Aguiar – A situação neste momento aqui na Sardenha é mais calma hoje, dia 11 de março. Mas nós tivemos três dias de pânico, medo e insegurança porque desembarcou aqui um navio lotado de pessoas que fugiam do Norte, da Lombardia, e entre essas pessoas não sabemos se há contaminadas. Isso gerou muito pânico na Sardenha que não tinha nenhum caso. Pelas informações de sites e do Ministério da Saúde, são 31 casos até o momento. Eu não li mais os jornais a partir de hoje, tomei essa decisão por ver tanta notícia ruim. Vi que do lado de fora está tudo muito triste e realmente eu preferi estar dentro de casa com os meus filhos e me concentrar em outras coisas. A situação é delicada. Porém, agora está controlada.

CP – Quais são os serviços momentaneamente suspensos em virtude do coronavíris?

Pollyana Aguiar – Os serviços proibidos neste momento são bares, cafés, discotecas ou qualquer lugar que tenha acúmulo de pessoas, como academias, bancos, escolas, tudo fechado. Alguns escritórios que não tenham acúmulo de pessoas podem funcionar até as 18h. A cidade está completamente parada. Os supermercados também estão abertos porque precisam abastecer as casas, as pessoas com alimentos – já estão faltando nas prateleiras – Mas também os supermercados têm restrições. Podem entrar de 5 a 7 pessoas, a maioria usando máscaras e luvas, e tem um tempo limitado para ficar dentro do supermercado fazendo compras.  A cada vez que cinco pessoas saem, outras cinco podem entrar. Todas mantendo um metro e meio de distância uns dos outros. É muito triste a cena.

CP – De que forma essa nova realidade afeta o cotidiano de sua família?

Pollyana Aguiar – É uma realidade que afetou os nossos hábitos diários. Eu e meus filhos praticamos esportes todos os dias, eles vão para a escola. Isso nos impossibilitou de mover, de sair do lugar. O primeiro impacto é muito negativo porque é algo imposto na sua vida. Para o meu trabalho não atrapalhou tanto no dia a dia porque eu trabalho on line com brasileiras pela mundo, então trabalho pelo computador e por telefone. Mas eu tive um grande prejuízo de ter que cancelar os compromissos que já estavam agendados no Brasil. Eram pelo menos três eventos já confirmados e trabalhos publicitários que eu tinha agendado. Então isso me trouxe um grande prejuízo financeiro. Mas tudo bem, se Deus quiser em junho estarei no Brasil.

No alto da Ilha Tavolara, na Sardenha, a 500 metros de altura

CP – Qual impacto em sua carreira profissional?

Pollyana Aguiar  – Não teve impacto na minha carreira profissional, pelo contrário, é até um momento em que o meu trabalho vale muito, trabalho com a positividade, com a motivação, com o plano B, aprendendo a lidar com as situações difíceis, dar soluções para os problemas. O problema é que impactou o emocional, a vida pessoal, o acordar com medo. Isso me trouxe um pouco de tristeza, de peso, rompeu com os meus projetos de uma hora para outra. Então tive um impacto pessoal grande. Mas já levantei. Estou firme e forte hoje!

CP – A Itália é, até o momento, o país europeu com o maior número de casos notificados e de pessoas mortas. A tensão generalizou-se?

Pollyana Aguiar – As pessoas precisam entender que na Itália existe o maior número de pessoas idosas no mundo! Na Sardenha, onde moro, é o lugar onde tem mais centenários vivos no mundo. É pela qualidade de vida! A Itália é um país de idosos. Como esse vírus, para mim, é construído em laboratório e atinge as pessoas mais fragilizadas, obviamente vai atingir os mais idosos, os que têm menos imunidade, que muitas vezes têm problema no pulmão ou no aparelho respiratório. Então a taxa de mortalidade na Itália é maior porque é um país de idosos e as maiores vítimas desse vírus são os idosos. Arrisco a acrescentar que, para mim, há interesse em eliminar tantos idosos do mundo. Eu acredito muito na maldade do ser humano, infelizmente, porque para mim é muita coincidência atingir a China e a Itália.

CP –  Quais medidas preventivas estão sendo tomadas para evitar o crescimento dos casos?

Pollyana Aguiar – Eu admiro muito a Itália pela atitude de parar o país e tomar medidas drásticas para desacelerar a contaminação  e evitar um número maior de mortes. Nenhum país que tem hoje contaminações fez isso. Apenas a Itália. Os Estados Unidos têm um grande número de contaminados  e não fez nada, estão fingindo que nada está acontecendo ali. A Inglaterra e a França….a Itália não. A Itália encarou, mostrou os dados e parou o país para desacelerar o número de contaminados. As medidas preventivas são essas drásticas: todo mundo ficar em casa, porque se todos  não tiverem contatos externos o vírus não circula. Então essa era realmente a única medida que poderia, realmente, fazer diferença. Mas obviamente práticas como ter higiene, lavar as mãos quantas vezes puder, esterilizar a casa com álcool, desinfetar as coisas, abrir janelas, deixar o sol entrar, evitar locais públicos, que é evitar contato humano neste momento. Na verdade, é quando a gente mais precisava de um abraço e é a única coisa que a gente não pode fazer.

CP – Existe alguma previsão de quando as atividades básicas do mercado profissional, da vida escolar e das atividades econômicas voltem ao normal?

Pollyana Aguiar  – As atividades começaram a ser suspensas na Itália, oficialmente, em 10 de março, fiscalizadas pela polícia e vão terminar em 3 de abril. As crianças pararam de estudar no dia 6 ou 7 se eu não me engano. Voltam só no dia 3 de abril. Considerando que as crianças estão estudando em casa, fazendo exercícios on line, a gente tem acesso ao site da escola, que passa todo o material on line. Nós estamos estudando com as crianças em casa. Então não estão tendo prejuízos consideráveis na escola. Eu, graças a Deus, tenho o meu trabalho on line. Então continuo minha vida normal dentro desse aspecto em minha casa.

Bruno, Leo e Daniel, os filhos de Pollyana Aguiar, todos residentes na Itália. Neste momento, Leo, o filho mais velho, está no Brasil com o pai e os avós maternos

CP – Como você e seus filhos, psicologicamente, estão lidando com este momento?

Pollyana Aguiar – Meus filhos estão supertranquilos porque o clima em casa é supermaravilhoso, a gente gosta de estar juntos, eu gosto muito de estar perto deles. Criei atividades que eles gostam de fazer, desenhar, assistir televisão, jogar vídeo game, a geladeira está cheia (risos) muito mais abastecida do que o normal porque a gente fez um estoque na casa. Então não falta nada para eles. O que digo é que não temos o que lamentar, porque há muitas tragédias naturais, tragédias que acontecem que nós não temos o controle da situação. Muitas vezes vem a fome, a miséria, as pessoas perdem tudo. Nós não estamos indo para a guerra. A gente está enfrentando uma guerra silenciosa. Porém, no conforto de nossas casas. Então, como lamentar tendo comida na mesa e uma cama para deitar? Nós estamos dentro de casa. Psicologicamente isso nos afeta porque altera a nossa rotina. Mas nós temos que ter a consciência de que dos problemas esse não seja o pior.

CP – Finalmente: existe alguma possibilidade de vocês retornarem ao Brasil?

Pollyana Aguiar – Eu não penso em retornar ao Brasil por causa disso. Nós brasileiros sabemos muito bem lidar com essas dificuldades. Conhecemos dengue, H1N1, pneumonia, entre tantos outros vírus ameaçam a nossa população e nem por isso o brasileiro entra em estado de calamidade. O brasileiro é  muito forte para enfrentar situações bem piores. Aliás, o que mais me assustou aqui na Europa foi o quanto isso gerou pânico! Eu tenho certeza de que esse vírus no Brasil não vai chegar a tanto. Eu amo o Brasil. Mas eu amo a Itália também. Passar esse momento com eles me fez ser ainda mais patriota com eles. Eu tenho origem italiana e é aqui que eu vou ficar por enquanto. O Brasil continua sendo a minha primeira casa. Mas eu amo os dois países e não vou deixar a Itália por causa disso. Para finalizar, se eu puder deixar algum conselho, é que cuidem bem da saúde. Quem cuida da saúde não teme a doença. A doença pode chegar para qualquer pessoa. Mas nós, quando cuidamos, preservamos a nossa saúde que Deus nos deu, a gente pelo menos segue de cabeça erguida e tranquila. Estou tranquila na minha casa porque cuido de minha saúde, cuido da saúde de meus filhos. Alimente-se bem, durma bem. Jogue o stresse para fora, pratique atividade física, faça coisas boas para você. O mundo pode parar, mas se a sua máquina, se o seu corpo parar, a sua mente parar, a sua vida termina ali. Então, cuide-se. Cuide-se sempre.

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